The pearl e tudo o mais sobre John Steinbeck

Meu primeiro contato com Steibeck foi em Lisboa, quando decidi comprar Of mice and men por causa da capa. Além disso, lembro do Sawyer (LOST) ler esse livro enquanto esteve lá perdido na ilha (você pode conferir a lista AQUI).

Foi o tipo de coisa pegar e não largar até chegar ao fim. E todos os livros do Steibeck que li nos últimos meses me provocaram essa sensação, até mesmo o extenso The grapes of wrath.

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Percebi, pelo menos até o momento, uma constante nos romances de Steinbeck: as personagens possuem uma esperança de que tudo vá melhorar, de que tudo fique bem. Nunca fica. Nunca dá certo no final. Sempre tem um acontecimento surpreendente para deixar o leitor de queixo caído e o coração apertado.

Depois de Of mice and men (1937) e The grapes of wrath (1939), li o Tortilla flat (1935) (a minha review desse livro foi bem básica, do tipo “ele é um gênio mesmo”) e, agora, The pearl.  Linkei os títulos com as reviews que fiz no Goodreads, segue a de The pearl  (1947):

Vou resumir o enredo e destacar as partes mais legais para mim.

O enredo pode não ser surpreendente, mas o modo como Steinbeck conta essa história faz você começar a leitura e só largar quando termina.

A família composta por Kino, Juanita e o filho deles, Coyotito, vê seu destino alterado quando o bebê é mordido por um escorpião. A necessidade de um médico e a falta de dinheiro faz com que Kino se lance ao mar em busca de uma pérola tão valiosa que seja capaz de salvar seu filho. Sem pensar duas vezes, vão para o mar com uma grande esperança de encontrar pérolas que compensem o tratamento de Coyotito.

Kino e Juanita ficam imensamente felizes quando encontram uma pérola valiosa, “a pérola do mundo”, e, ao mesmo tempo, percebem que Coyotito está livre do veneno do escorpião, excluindo assim a necessidade de pagar por um médico. Todo o poder, entretanto, guarda em si uma forma de perigo.

“It is not good to want a thing too much. It sometimes drives the luck away. You must want it just enough, and you must be very tactful with God or the gods.”

A descoberta da grande pérola se espalha rapidamente pela cidade e os vizinhos fazem uma visita a Kino, perguntam-lhe o que irá fazer com o dinheiro da pérola, já que Coyotito está fora de perigo agora. Roupas novas, uma escola para Coyotito e um rifle. A esse último, segue uma passagem muito interessante a respeito do desejo humano:

“This was an impossibility, and if he could think of having a rifle whole horizons were burst and he could rush on. For it is said that humans are never satisfied, that you give them one thing and they want something more. And this is said in disparagement, whereas it is one of the greatest talents the species has and one that has made it superior to animals that are satisfied with what they have.”

E sobre fazer planos:

“But now, by saying what his future was going to be like, he had created it. A plan is a real thing, and things projected are experienced. A plan once made and visualized becomes a reality along with other realities – never to be destroyed but easily to be attacked.”

Todos na cidadezinha ficam sabendo do grande achado de Kino, inclusive o médico. Esse, entretanto, é muito ganancioso e usa de seu conhecimento para enganar o casal e fazer com que Kino se veja obrigado a vender a pérola e lhe pague o atendimento. A partir de então, a vida da família transforma-se num inferno. A mensagem é basicamente “cuidado com o que deseja”, mas também “acredite nos seus instintos”, pois Juanita fez uma mistura de ervas que curou Coyotito, apenas o ardil do médico a impediu de ver isso, além de toda a questão do status do conhecimento formal versus o conhecimento adquirido pela tradição.

Um fator decisivo para que eu me apegasse a esse livro foi o modo como ele inicia.

“In the town they tell the story of the great pearl” how it was found and how it was lost again. They tell of Kino, the fisherman, and of his wife, Juana, and of the baby, Coyotito. And because the story has been told so often, it has taken root in every man’s mind. And, as with all retold tales that are in people’s hearts, there are only good and bad things and black and white things and good and evil things and no in-between anywhere.

If this story is a parable, perhaps everyone takes his own meaning from it and reads his own life into it. In any case, they say in the town that…”

Esse clima de história recontada milhões de vezes (como um mito, uma lenda) e a questão didática ficar claramente sob responsabilidade do leitor sempre me parecem fórmulas que dão certo. Foi assim em Barba ensopada de sangue (Daniel Galera), quando o protagonista vai para Santa Catarina em busca de notícias sobre o avô, Gaudério. Mas,  enfim, estamos falando de The pearl.

É angustiante ficar o tempo inteiro naquela incerteza se Kino conseguirá ou não vender a pérola, fiquei torcendo para que ele pelo menos conseguisse minimizar a sua pobreza. Mas as histórias de Steinbeck não são assim. Quem está perdendo, sairá sempre perdendo no final, mesmo merecendo uma chance. Sobre isso, nem sei o que pensar, pois cada vez mais o mundo parece operar nessa lógica.

Fica a recomendação de leitura, ainda tenho muitos outros títulos dele na fila.

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PS: não coloquei paginação, li em versão e-book.

Quando começa assim, tem alguma chance de dar errado? <3

Quando começa assim, tem alguma chance de dar errado? ❤

PS2: Lidos esse mês: Laços de família e Onde estivestes de noite, Clarice Lispector. Gosto muito dela como contista, já falei disso em algum lugar aqui. Cada vez mais percebo como o timing da leitura influencia demais no resultado das impressões que projetamos nos livros.

Volto qualquer dia desses para mais um comentário sobre mais alguma coisa.

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