Nove noites: one-sit reading

Não quero me alongar muito nesse post, pois suponho que você tenha várias coisas para fazer nesse momento. Às vezes, acho meus comentários muito insuficientes ou resumidos demais. Pensando bem…dane-se! Eu não vou fazer uma análise teórica completa de todos os livros lidos – não tenho tempo para fazer um artigo acadêmico por post.

Apenas posso deixar sparkles de curiosidade (acho a palavra em inglês mais mágica do que em português). E é sobre essa fagulha o comentário de hoje. Não lembro muito bem quando e por que ouvi falar de Nove noites, do Bernardo Carvalho, mas sempre foram coisas positivas: “muito bom”, “ótimo”, entre outros.

Procurando por alguma coisa do Galeano na livraria (e não encontrando os títulos resenhados por amigos ultimamente), resolvi ficar com o Nove noites.

Resumo: o escritor Bernardo (Carvalho) lê um artigo sobre o antropólogo norte-americano Buell Quain, o qual cometeu suicídio no Brasil, em 1939, enquanto pesquisava a tribo indígena dos craós. Isso o deixa intrigado e decide ir atrás da verdade sobre Quain. Se aquilo tomado como fato a respeito de Quain –  sua história e suicídio – já é fascinante, imagine isso somado a uma narração meio autobiográfica (não sei as distinções técnicas dos termos, mas seria uma voz narrativa mais aproximada das experiências do Bernardo Carvalho) e repleta de momentos que te fazem ir mais fundo e pensar sobre de si mesmo. A história gira em torno dessa obsessão de Bernardo pelas causas do suicídio de Quain. Ainda, há uma segunda voz narrativa no texto, aliás, a voz que inicia o romance. Esse personagem conhece muito bem Buell e as histórias contadas a ele pelo antropólogo, sempre cifradas, extrapolam os encantos da narração. Assim começa Nove noites:

“1. Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo. Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui. Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois de amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do mistério, para acabar morrendo de curiosidade.”

(grifo meu. – não é sempre essa terra que adentramos quando abrimos um livro?)

Li ele todo ontem. Não tem como você embarcar nessa história e ficar indiferente, tampouco conformado em terminar no dia seguinte.

Edgar Allan Poe dizia que as histórias deveriam ter uma determinada extensão, as melhores deveriam ser lidas em “uma assentada só”.  Nove noites é um deles.

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